Em 1965, um Trident fez história ao realizar o primeiro pouso automático comercial sem intervenção dos pilotos
Há exatos 60 anos, em 10 de junho de 1965, a aviação comercial alcançou um marco histórico com o primeiro pouso totalmente automático de um avião com ageiros, realizado sem qualquer intervenção manual dos pilotos. Nenhum dos ageiros percebeu ter sido um pouso conduzido pelos computadores embarcados.
O evento histórico foi realizado por um Hawker Siddeley Trident 1C da British European Airways (BEA), operando o voo BE343 entre Paris e Londres, que na ocasião contava comcondições meteorológicas adversas, exigindo um pouso de precisão.
O sistema Autoland foi desenvolvido pela Smiths Industries em colaboração com a Hawker Siddeley Aviation e a própria BEA. Essa foi uma das primeiras implementações operacionais de pouso automático na aviação civil, representando um avanço tecnológico notável para a época e estabelecendo as bases dos sistemas automáticos modernos de aproximação e pouso, incluindo os sistemas autônomos da plataforma Garmin.
O Trident 1C foi projetado desde o início para incorporar tecnologia de ponta, incluindo o sistema de pouso automático, que permitia à aeronave realizar aproximação, flare, toque na pista e, em versões posteriores, a rolagem até desaceleração total — tudo sem interferência humana.
O sistema Autoland usado pelo Trident integrava uma arquitetura tripla redundante (triplex), que aumentava significativamente a confiabilidade e segurança. Caso um dos canais apresentasse falhas, os demais garantiam a continuidade da operação automática. A aeronave se guiava com precisão pelo Instrument Landing System (ILS), interpretando os sinais do localizador (eixo lateral) e o glide slope (ângulo de descida).
Além do controle de descida, o sistema atuava nos comandos do avião, executando a transição de flare para suavizar o toque na pista e, posteriormente, a desaceleração controlada na pista. O Autoland também contava com mecanismos de monitoramento contínuo, que desligavam automaticamente o sistema em caso de discrepâncias entre os canais, devolvendo o comando aos pilotos de forma segura.
Antes da entrada em operação comercial, a BEA realizou dentenas de voos de teste sem ageiros para validar a confiabilidade do sistema. Após os resultados positivos, o sistema foi certificado para uso regular.
Na década de 1970, foi identificado que os pousos automáticos do Trident poderiam gerar contatos com o solo mais firmes que o ideal, acelerando a fadiga estrutural em algumas aeronaves. Em vez de realizar reparos caros, companhias optaram pela retirada dos modelos afetados de operação. Ainda assim, o Trident se consolidou como espinha dorsal da frota da BEA, sendo aprimorado em versões como o 1E, 2E e 3B.
A tecnologia desenvolvida para o Trident pavimentou o caminho para os sistemas autoland atuais, que hoje operam com controles fly-by-wire e lógica computacional redundante. O princípio de tripla redundância aliado à navegação por ILS segue como base na aviação moderna.
* colaborou Edmundo Ubiratan
Por Marcel Cardoso
Publicado em 10/06/2025, às 09h16
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